Belém estava na minha lista de desejos há bastante tempo, por isso, quando encontrei uma promo de passagem saindo de São Paulo, não pensei duas vezes.
Eu estaria em São Paulo para um show em abril (2018) e sabia que de lá para o Norte do país as passagens ficam um pouco mais baratas. As minhas comprei com milhas, então nem senti no bolso.
Por que Belém?
Porque tem uma gastronomia incrível, porque não conhecia nenhuma cidade do Norte ainda e principalmente, porque uma grande amiga mora lá. Aliás, graças a ela e seu namorado, eu tive o fim de semana mais surpreendente e inesquecível, que superou qualquer expectativa que eu pudesse ter sobre a cidade.
Conheci Dany por causa de seu blog Feriado Pessoal, há cerca de dez anos. Foi ela quem me mostrou Madrid pela primeira vez. E agora, dez anos depois, me mostrou os encantos de Belém também.
PRIMEIRO DIA – SÁBADO
Saí de São Paulo às 20h e cheguei em Belém debaixo de muita chuva, às 23h30 da sexta-feira. Dany, minha amiga, estava me esperando no aeroporto, juntamente com seu namorado, lindamente uniformizados. Ali, percebi que minha estadia seria encantadora.
No sábado pela manhã descansei e em seguida fui visitar minha amiga em sua autêntica loja de queijos, geleias e vinhos, a Qjo Artesanal ( Tv. Alm. Wandenkolk, 1154 – Nazaré), que já é a primeira dica para quem adora queijos brasileiros. Uma linda boutique de queijos!
De lá, fizemos uma paradinha no Grand Cru (Av. Cmte. Brás de Águiar, 50 – Nazaré), para uma taça de vinho e fomos almoçar no Avuado Restaurante (Tv. Dom Romualdo de Seixas, 823 – Umarizal, Belém) para começar minha imersão na gastronomia paraense.
O restaurante é todo ambientado com motivos regionais e os pratos são bem servidos e saborosos. Naquela tarde havia inclusive música ao vivo. Ali saboreei uma deliciosa Moqueca e, claro, não deixei de provar a cachaça de Jambu para dar um pouco de risadas com a boca amortecida.
Depois do almoço, a sobremesa foi na doceria Sweet by Sisters (Av. Generalíssimo Deodoro, 355b – Umarizal). Um charmoso café com irresistíveis opções de bolos. O escolhido foi o bolo de uvinha, com massa amanteigada de baunilha, recheado e coberto com brigadeiro gourmet de uva verde. E fiquei com vontade de experimentar o de Oreo, porém, como a jornada gastronômica estava só começando, achei melhor não exagerar.
A tarde seguiu com um passeio pelo Espaço São José Liberto (Praça Amazonas, s/n – Jurunas). É um lugar é um antigo presídio desativado e que hoje é mantido pelo governo. Lá há comercialização de joias, produtos de moda e artesanatos de designers, artesãos, microempresários e marcas genuinamente paraenses. Visitamos o Polo Joalheiro, onde se pode ver de perto o trabalho de ourives, e onde ficam algumas lojas que vendem peças de ouro e prata com pedras da região.
Depois do passeio, fomos para a segunda confeitaria do dia, a Tia Maria Doceria (Tv. Benjamin Constant, 1337 – Nazaré). A doceria está localizada numa rua com casas antigas e coloridas, um charme.
Lá, nossa pedida foi uma fatia do Bolo de brigadeiro com cupuaçu. Combinação deliciosa de sabores. Sem contar que a decoração do ambiente faz a gente querer não ir embora.
Antes de terminar o dia ainda havia um programa no roteiro: jantar no conceituado restaurante Remanso do Bosque (Av. Rômulo Maiorana, 2350 – Marco).
Ainda em São Paulo, a minha amiga Tati (blog Por mais um carimbo) comentou que quando fosse a Belém, um lugar que gostaria muito de conhecer era o restaurante dos chefs Thiago e Felipe Castanho. Naquela hora enviei uma mensagem para Dany, perguntando se ela conhecia e sua resposta não poderia ser melhor: “Iremos jantar lá!”.
Então, dá para imaginar a minha expectativa, né?!
De entrada pedimos camarões empanados na tapioca e ali, me apaixonei pelo lugar.
Os pratos seguintes mantiveram a satisfação: Tucunaré assado na brasa; e Pirarucu defumado cozido ao molho de leite de coco.
E ainda havia espaço para a sobremesa, claro! Duas!
O Brownioca branco ao bacuri trouxe o sabor inesquecível do bacuri, frutinha pela qual me apaixonei. A segunda sobremesa foi bacuri (falei que eu tinha gostado da fruta!) com chips de macaxeira e (um surpreendente) sagu de hibisco. As sobremesas só tinham um defeito: eram muito pequenas em relação aos outros pratos anteriores. Ou, pode-se dizer também que eram muito gostosas e eu comeria mais umas três de cada.
SEGUNDO DIA – DOMINGO
O domingo começou perto da hora do almoço, afinal, depois de tanta comilança na noite anterior, aproveitamos para dormir até mais tarde.
A primeira parada foi no Mercado Ver-o-Peso (v. Blvd. Castilhos França, S/N – Comércio), com direito a uma tapioca doce, o que causou certo estranhamento nos meus amigos, afinal a tradicional tapioca é com manteiga.
E foi ali, perto das 11h da manhã, que senti fortemente o famoso calor de Belém. Jesus!
Logo em frente está o Mercado Municipal de Carnes Francisco Bolonha (Av. Blvd. Castilhos França, s/n – Comércio). O prédio faz parte do complexo Ver-o-Peso e é L-I-N-D-O!
Sua estrutura de ferro abriga barracas que vendem carne durante a semana. Naquele horário estava fechado, o que permitiu admirar com mais tranquilidade sua bonita arquitetura.
Almoço de domingo é sempre especial, né?!
Se você for amigo da Dany, com certeza é!
Na minha programação estava uma pequena viagem de barco até a Ilha do Combu. Passeio pensado estrategicamente, pois a ilha, além de linda, é também conhecida como a ilha do chocolate da Amazônia. Sim, eu disse CHOCOLATE!
Esse foi um dos passeios que se eu estivesse sozinha na cidade, teria mais dificuldade.
Estacionamos o carro no Porto da Praça Princesa Isabel. Ali é necessário alugar um lugar no barco de pequeno porte que faz a travessia. O trajeto dura cerca de 10 minutos. Acho que nunca havia andado num barco tão baixinho.
Antes do almoço fizemos uma parada na Casa do Chocolate da Dona Nena. Ela é tão famosa que conquistou chefs como o Alex Atala, que usa o chocolate do Combu em suas receitas.
Na loja chama-se Filha do Combu e nela é possível fazer uma pequena degustação dos produtos para decidir qual irá levar. Bombons, brigadeiros e doce de cupuaçu. Tudo produzido ali, na ilha. Aliás, a tecnologia ali te faz esquecer que é uma ilha. Paguei minhas comprinhas com o cartão, enquanto andava pelo quintal para conhecer uma árvore centenária entre pés de cacau.
No trajeto Belém – Ilha – Filha do Combu – Saldosa Maloca pegamos Sol, chuva e Sol de novo. Brinco que me senti a própria Glória Maria, andando de barquinho no meio da Amazônia.
Para o almoço, o lugar escolhido foi o famoso Saldosa Maloca, o restaurante mais antigo da ilha.
Para refrescar, uma deliciosa Caipirinha de Cupuaçu. O prato principal foi o Tambaqui na Brasa: uma banda de tambaqui assada na brasa servida com arroz de jambu, farofa molhada e vinagrete.
Foi ali, no meio da tarde, depois de um delicioso almoço, que tive meu primeiro contato com o Açaí de verdade.
“Esqueça a granola, o guaraná ou frutinhas. Aqui o açaí se come puro. Ou como molho para o camarão seco, ou com farinha de tapioca e um pouquinho de açúcar”, alertaram Dany e Thiago.
E assim eu fiz!
Como molho para o peixe ficou realmente um pouco estranho. Mas com a farinha de tapioca ficou.. viciante!
Lembro de ouvir vagamente sobre não comer muito porque dava sono. Só percebi isso quando a sonolência chegou violentamente. Hahaha
Essa foi outra quebra de paradigmas. Aqui, eu conhecia um açaí incrementado, que se consome para dar energia. O açaí de verdade, que relaxa e dá sono foi novidade. Porém, uma novidade gostosa demais. Como açaí em todas as oportunidades seguintes.
No final da tarde voltamos para Belém. O dia estava lindo demais e pedia uma passada na Estação das Docas (Av. Boulevard Castilho, s/n – Campina).
Além da beleza do antigo porto fluvial que agora é um complexo turístico, a Estação das Docas tinha um apelo ainda maior: a Sorveteria Cairu!
Experimentei TODOS os sabores de frutas típicas para conseguir escolher dois sabores na casquinha: Açaí com Tapioca!
Dá água na boca só de lembrar do sabor. De fato, se eu pudesse trazer de Belém apenas uma coisa na mala, seria uma sorveteria Cairu.
No jantar, depois de toda a orgia gastronômica do dia, acabamos optando por algo mais leve, ali na Estação das Docas mesmo.
TERCEIRO DIA – SEGUNDA-FEIRA
Último dia em Belém. Hora de fazer comprinhas. Fomos até a loja Genuína Cachaça com Jambu (nº304 esquina com Aristides Lôbo, R. Pe. Prudêncio, 10 – Campina). Ali aproveitei para comprar pimentas, molhos e, claro, geleias.
Também passamos numa loja de produtos naturais, pertinho do Ver-o-Peso, onde fiz duas compras que me causaram arrependimentos. Comprei sementes de Cumaru (um tipo similar de baunilha da Amazônia) e pó de colágeno com vitamina C (para pele linda, meninas), indicação de Dany.
E por que os arrependimentos? Porque eu deveria ter trazido quilos de ambos. Aqui, em Curitiba, o cumaru custa uma fortuna. E Colágeno não existe com vitamina C junto.
Depois do almoço, foi a vez de conhecer mais uma doceria, a Doux du Jour (Av. Conselheiro Furtado, 1100-1198 – Batista Campos). Uma confeitaria que lembra uma casinha de bonecas, toda cor de rosa.
Escolhi uma fatia da torta Maria Izabel, que é recheada com geleia de bacuri, deliciosa! E um bolinho Saca-vidas, que reúne os sabores baunilha, morango e chocolate. Se você visitar a doceria, não saia de lá sem um pacotinho do biscoito Monteiro Lopes. #Ficaadica

Após os doces, ainda deu tempo de saborear uma tapioca e fazer uma mini degustação de frutas típicas, compradas no Ver-o-Peso.
O jantar de despedida foi no restaurante ROXY, conhecido por seu cardápio em que os pratos levam nomes de filmes ou estrelas do cinema. O restaurante fica dentro de um shopping e tem um ambiente muito agradável. Porém não é um lugar onde você vai encontrar comida típica.

Minha aventura por Belém terminou na manhã da terça-feira. Foram três dias intensos, de profunda imersão na gastronomia nortista e que, sem sombras de dúvida, foi ainda mais especial graças ao super roteiro criado pelos meus amigos. Obrigada, Dany e Thiago!
Belém foi ainda mais impressionante do que eu poderia imaginar. A cidade é tão diferente e tem tantas belezas, que eu voltaria mais umas dez vezes, com toda certeza.