Se Willy Wonka morasse em Curitiba, ele certamente seria cliente assíduo da Cuore di Cacao.
A chocolateria mais premiada da cidade existe há quinze anos e coleciona dezesseis prêmios de melhor chocolate. O mais recente foi a medalha de ouro na 10ª edição do Northwest Chocolate Festival, considerada a maior premiação da chocolateria mundial. Entre as seis marcas brasileiras, a Cuore di Cacao foi a única que levou ouro, na categoria inclusão, com sua barra 70% cacau com castanha-de-caju e flor de sal, que coincidentemente é um dos chocolates preferidos atualmente das irmãs Carolina e Bibiana Schneider, responsáveis pela marca.
A Cuore di Cacao é uma empresa familiar. Surgiu na cozinha de um antigo restaurante dos pais, em 2004. Uma simples curiosidade levou a uma receita executada com maestria e o sucesso precoce acabou sendo determinante nas carreiras das irmãs.
Carolina, a chocolatière da marca, se formou em Nutrição e fez estágios na França e na Bélgica. Enquanto isso, Bibiana, aqui no Brasil, percebeu que poderia trazer seu talento para o negócio.
A parceria entre elas vai além de relacionamento familiar, o sucesso da marca reflete uma sintonia de talentos.
Desta vez, a entrevista é em dose dupla. Entre um chocolate e outro, as irmãs relembraram o início da marca e contaram suas preferências no mundo do chocolate. Conheça um pouco mais sobre a história das irmãs Bibiana e Carolina Schneider.

Quando surgiu o interesse por chocolate? Sempre foi o Plano A?
Carolina – Gastronomia sempre foi o plano A. Com 12 anos comecei a estudar francês porque queria trabalhar com gastronomia. Fiz faculdade de Nutrição porque na época não tinha faculdade de gastronomia. E no fim foi ótimo, porque hoje uso muito dos conhecimentos de Nutrição. Agora, o chocolate entrou por acaso. Nossa mãe tinha uma receita de trufa e certa vez a gente resolveu fazer para servir no restaurante dos nossos pais. Colocamos numa mesinha, na saída do restaurante.
Bibiana – Aí as pessoas gostaram e começaram a encomendar. Nisso, veio uma Páscoa. Tínhamos cerca de 16 anos na época. As trufas continuaram sendo sucesso até que, depois de uma notinha no jornal, a procura aumentou bastante e resolvemos criar uma marca.
Carolina – Decidimos que seria o nosso negócio. Escolhemos um nome, aí a Bibiana começou a trabalhar neste sentido, de desenvolver a identidade da marca. Logo que eu terminei a faculdade, fui fazer estágios na França e na Suíça. Paralelamente, a Bibiana ficou tocando o projeto da nossa primeira loja que iria abrir. Então, quando voltei, fizemos testes e ajustes e logo abrimos a Cuore di Cacao, em 2004.
Bibiana – Eu não planejava trabalhar com gastronomia naquela época. Fazia faculdade de Belas Artes e planejava trabalhar com história da arte. Aí, neste comecinho da marca eu passei a ajudar a Carolina, fazer embalagens, decoração em cima das trufas. Ajudava nas ideias de combinações de sabores e quando percebi já estava completamente envolvida e me apaixonei pelo assunto. E quando eu descobri que podia trazer meus conhecimentos da parte visual para o negócio, me deu uma grande satisfação.
Qual foi a primeira receita criada pela Cuore di Cacao?
Carolina – Quando abrimos tínhamos um balcão com várias opções. Mas lembro que um sabor marcante foi quando fizemos o palette de laranja, que foi o primeiro palette com a estampa colorida e percebemos que chamava muito a atenção. A partir dali passamos a colocar esse formato de bombom na linha.
Quando vocês perceberam que estavam se tornando referência em chocolates, na cidade?
Carolina – Acredito que quando começamos a ganhar os prêmios. A partir de 2006, quando ganhamos o nosso primeiro prêmio, da Gula, uma revista referência em gastronomia.
Bibiana – Quando a mídia começou a ter mais interesse pelo nosso trabalho, percebemos que estávamos chamando a atenção de alguma maneira.
Quando um hobby se torna profissão, se perde um hobby. Após tantos anos, vocês conseguem comer chocolate com o mesmo prazer?
Bibiana – Sim. Eu acho que a única diferença é que quando estamos pensando em um novo produto para a loja, a gente se transporta para o lugar do cliente para entender o que os outros gostam.
Carolina – Quando estamos comendo chocolate à trabalho, temos um raciocínio mais objetivo. Fazemos análise técnica se a textura está adequada, se a acidez está no ponto certo… Mas na hora de escolher um chocolate para comer, sempre tem o prazer. Neste caso, continua o hobby.
Qual é o chocolate preferido de cada uma?
Bibiana – Ah! Eu tenho dois pelos quais estou apaixonada no momento: o ao leite, 38% de cacau), que é o crocante com nibs de cacau e melado; e o 70% cacau com castanha de caju e flor de sal. Hoje, são os que mais tenho vontade de comer todos os dias.
Carolina – Tem um preferido do momento. Eu gosto muito do ao leite, com 60% cacau; e o 70% cacau com castanha de caju e flor de sal. O básico de todos os dias, normalmente é o 70%.

Vocês têm várias receitas com combinações criativas de sabores. Qual ingredientes vocês jamais misturariam com chocolate?
Carolina – Nunca diga nunca! Porque quem diria que gorgonzola com doce de leite ia dar certo?!
Bibiana – Vai depender tanto do cacau, do chocolate, que só sobrando para saber.
Carolina – Eu nunca me esqueço da primeira degustação, para o Estadão, que enviamos vários ovos e um deles foi o de gorgonzola com doce de leite. E eu nunca esqueço o texto que o jornalista escreveu: “E o gorgonzola, sempre tão falastrão, ele toma seu lugar…” Ele descreveu que o gorgonzola sempre tão presente em tudo, no ovo estava delicadamente equilibrado com os outros ingredientes. Então, assim, quem diria que ia dar certo?

Bibiana – Esses dias vi uma especialista, acho que inglesa, que estava provando um chocolate com camarãozinho e peixe seco. Eu levei um susto danado. E ela postou que estava interessante a combinação. Então assim, você já imaginou uma combinação dessas? Só provando para saber.
Tem coisas que são só invencionices sem pé nem cabeça, mas tudo pode ter seu equilíbrio. Só testando para saber. Já provei chocolate com azeitonas, com defumados, com salame, com vários queijos…
Qual foi a melhor sobremesa com chocolate que vocês comeram recentemente?
Bibiana – Eu confesso que eu como pouca sobremesa com chocolate. Não me lembro de nenhuma recente.
Carolina – Eu comi recentemente durante minha última viagem a Paris. Tinha uma muito boa, do Yann Couvreur, chamada De gateau aux pain.
E também uma maravilhosa da Claire Damon, chamada La gourmandise. Era de chocolate ao leite, com avelã do Piemonte, Crème Bûlée de avelã, pralinée crocante e zabaione de chocolate ao leite. Sem excesso de doçura.
Se tivesse que escolher um chocolate da Cuore di Cacao para colocar numa cápsula do tempo, que será aberta em 2.100, qual seria a escolha de cada uma?
Carolina – Tem um clássico…
Bibiana – Vamos ver se é o mesmo que eu estou pensando…
Carolina – Banana com cachaça.
Bibiana – Eu ia falar esse também.
Pensei que seria o de gorgonzola com doce de leite...
Carolina – O de banana está desde sempre na linha e reflete muito uma criação nossa.
Bibiana – O de banana tem muito a ver com a nossa história. Ele foi para o Salon du Chocolat de Paris. Fomos a primeira chocolateria brasileira a expor no Salão do chocolate.
Quais são os nomes, no mundo do chocolate, que são inspirações para vocês?
Bibiana – Chocolate, a referência não vem só de chocolateiros e confeiteiros. Tem outros trabalhos que agregam para a criação, como marca de moda, perfume, cosmético, cinema. Trazem uma linha de raciocínio que pode servir para a gente. Então, a referência não é apenas de sabor, mas também visuais, de outros sentidos.

Como surgiu o Clube do Chocolate?
Bibiana – Faz muitos anos que a gente queria fazer o clube. Muitos anos. Acho que não existia nenhum assim ainda no Brasil, na época que pensamos nele. Mas aí, os afazeres do dia a dia e as outras coleções que tínhamos que lançar, acabaram preenchendo o tempo e só conseguimos lançar depois.
Primeiro porque eu acho que a ideia de pessoas que são apaixonadas por chocolate receberem uma novidade todo o mês é muito legal. Eu adoraria receber em casa. A gente sempre teve muitas ideias que a loja não dá vasão para colocarmos tudo em prática. E o clube foi uma maneira de criarmos algo com exclusividade mesmo. Para pessoas que gostam dos tradicionais de vez em quando e são antenadas, querem sempre saber algo novo. É um laboratório de ideias.
Carolina – E nos obriga a estar sempre criando, pensando, desenvolvendo e testando.

Cuore di Cacao
Rua Fernando Simas, 347 – Bigorrilho
Telefone: (41) 3014-4010.
Abre de segunda a sábado, das 10h às 19h.
Instagram: @cuoredicacaochocolateria
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